Super-Herói

Tens duas caras; ora feia, ora monstruosa, ser humano fadado para a miséria mais profunda. Respiras fundo para aliviar a dor desse teu cérebro siamês que te engole em tormento, enquanto restituis, a custo, a cara que mais mostras.

Gostes ou não, o mundo obriga-te a tomar decisões, a seres partidária, ainda que nem tu mesma saibas quem és, ou porque és. Arrependes-te então. O mundo convence-te dos teus pecados enquanto monstro e tu voltas, como uma criança que regressa a casa após fuga infrutífera.
Sentes vergonha. Tocas-te no rosto e estás bem – continuas feia, como sempre. Mas ainda sentes os teus impulsos desumanos, bem como o travo de sangue na boca, fruto das mil carnes que chacinaste.

Olhas em tantas as direcções quanto podes, para te descobrires sozinha. E aí, finalmente, ensaias um sorriso tímido...

E é isto que te acontece nos cinco segundos em que acordas.