27.4.09

Diferenças



Lembro-me há uns anos atrás, no epicentro da minha adolescência, de me olhar ao espelho e achar-me diferente. Diferente da maioria, com diferente maneira de pensar, de agir e sobretudo, de estar.
Desses tempos para hoje, acho que envelheci meia dúzia de anos e pouco mais há a assinalar. Continuo a ver-me um tanto ou quanto alienígena no espelho. Antes, dizer-se-ia que a idade justificava tudo, agora sou eu próprio que vou em busca das minhas justificações.

Mas este não é um texto centrado em mim (mais tarde...). Olhando para além do espelho, não me vejo um messias numa cruzada contra o resto do mundo. Nas diferenças para os padrões nascem amizades, e foi assim que eu próprio ganhei afinidades com alguns dos meus amigos. Uma maioria é isso mesmo: a maior parte, não o todo.

Mas quem é a maioria? Ou contextualizando, quem é a maioria em Portugal? Será legítimo colocar num saco gigante a maior parte das pessoas deste país, e consequentemente a maior parte das pessoas com quem travei conhecimento, das quais posso até esporadicamente ter retirado bons momentos? Prendam esta questão, que já volto a ela. Adiante para outra.

Já alguma vez pensaram em como um louco pensa? Na sua mente, não seremos nós os loucos? Certamente seremos diferentes. No modo de ser, no modo de estar. No modo de sorrir e achar piada; no modo de... cometer actos de loucura, sob diferentes padrões de sobriedade. Considerando ou não outrem louco, todos nós mantemos, sem pensar muito nisso, esse tal padrão, que comanda a nossa noção perceptual das pessoas e dos seus actos. No fim, tudo se resume à moral que cada um tem e à forma como esta afecta todas as outras actividades independentes dela. A título de exemplo: se eu agredir injustificadamente alguém poderei ser acusado de um acto de loucura. Muito bem, parece-me que aqui existe uma oposição moral relativamente fácil de ser defendida, pois estou a cometer um acto de violência gratuita que não se restringe a mim, afectando alguém que nada fez para justificá-lo. É ilógico e irracional. Mas também o é, pular num centro comercial, cantando a plenos pulmões qualquer coisa completamente fora do contexto. A falta de lógica deste último acto, leva a tal maioria a ostracizá-lo, colocando-o no saco da demência e das atitudes condenáveis.

O quadro completo desta mentalidade resulta na censura de mais comportamentos do que o que é necessário, estabelecendo ordem (através da punição do crime e actos ilegais), mas ceifando consigo a espontaneidade e a criatividade, que é germinada nos momentos ilógicos e de expressão abstracta. E com isso vem o preconceito em relação aos ofícios: os pais só querem filhos médicos e engenheiros, as artes e tudo o resto são ocupações de menor valor.

Perguntei há dois parágrafos atrás se seria legítimo colocar a maior parte das pessoas que conheci neste saco de ignorância, falta de vontade própria, ou de criativade para assumirem as suas diferenças, quer a nível pessoal, quer a nível ideológico. Não me apetece responder...

Tenho o direito à diferença.

1 comentário:

Anónimo disse...

...Belo texto! Mas uma boa revisão não custa nada. Senão vejamos: não existe "há uns anos atrás nem "há dois parágrafos atrás"; o correto seria "há uns anos" ou "anos atrás" ou "há dois paragrafos" ou "dois parágrafos atrás". "Há" e "atrás" juntos, vira redundancia.Um abraço!