5.3.05

Cor de Pele (Parte II)

Posted by Hello



Muitas pessoas tendem em ver a idade adulta, como uma fase da vida em que as pessoas amadurecem e aprendem com os erros do passado, cometem-nos menos vezes e evoluem a sua forma de estar e pensar. É evidente que isto é verdade, em parte, mas não como se idealiza. O problema é que há uma má tendência em amenizar-se os erros cometidos na adolescência, com o argumento idiota da idade. “Ele(a) vai amadurecer...”. Já todos vimos este filme, não é? Mas já alguma vez pararam para pensar que o que separa a adolescência da idade adulta são tão curtos e efémeros anos? À medida que me aproximo da minha vintena, cada vez mais penso nisso. Penso em como ontem era criança... o meu pensamento não era assim tão diferente! Aprendi muito, tive alegrias, decepções, mas não sou outra pessoa. Sou a continuação da mesma pessoa que era, elogiam-me as mesmas virtudes, mas apontam-me os mesmos defeitos. Então, porque é que se subestima o pensamento juvenil e deixa-se as responsabilidades para mais tarde?

Na semana passada fui ao cinema ver o “Million Dollar Baby”, já agora, um excelente filme. Durante uma cena do filme em que ocorre uma luta de boxe, eis que surge vinda da fila de trás, a seguinte “legenda”- “-Viram a cara do preto?!”- envolta em estridentes gargalhadas de quem, para além do pobre comentário, pelos vistos pensava estar a assistir a um filme de acção... Se eu lesse o que acabei de dizer, como quem lê isto agora, idealizaría esta cena, talvez com um grupo de adolescentes imaturos, a quererem dar nas vistas. Pois é, a verdade é que atrás de mim estavam dois casais com idades a rondarem os 40 anos...
Muita gente ouve apenas falar, mas existem organizações altamente estudadas, com princípios racistas. Nos Estados Unidos, existe já há muitos anos o KKK, um movimento político nacionalista racial, que tem como uma das suas grandes bandeiras, a ideia de que os afro-americanos (e todos os negros americanos em geral) têm de ser desautorizados a viver no país. Dizem que o HIV é um virus étnico, proveniente dos negros e que os infectados têm de ser postos em “quarentena” em hospitais. Dizem que o mundo só pode ter uma cor. Dizem que lhes é legítimo dizer o que dizem porque há passagens bíblicas que assim o fundamentam... Deixo umas linhas de intervalo para digerirem estes factos, que muitos, pura e simplesmente, desconhecem...


Em Portugal, há jovens a adpotarem os ideais do KKK mesmo não sendo Americanos! Toda a gente conhece as histórias dos maiores ditadores mundiais, as suas atrocidades e genocídios cometidos, mas ainda assim, temos neonazis a reciclarem-se. Podemos encontrar propagandeado por um grupo nacionalista português (o qual nao refiro o nome porque não quero propagandear monstruosidades...) frases como “O casamento interracial representa uma involução, e uma inversão do plano universal da Natureza”. Recentemente, tem vindo a crescer a ameaça no seio das claques de futebol. Num espaço de poucos meses, sucederam-se notícias de cânticos e atitudes racistas por parte destes grupos, que estavam apenas à espera de um “pequeno passo na fronteira” para se começarem a mexer. O país que se encontra no epicentro deste abalo é nada mais, nada menos, que a nossa vizinha Espanha, o que nos faz chegar a claras conclusões acerca da possível vulnerabilidade do nosso país a este tipo de movimentos. As claques de futebol são um perfeito palco para a mobilização de mais e mais jovens, amanhã, mais e mais trabalhadores e chefes de família.
No caso do entretenimento, temos, como é invariável, uma quantidade bastante diversa de maneiras de pensar e transmitir a informação. Mas novamente, o que muitas pessoas estão a ouvir ou a ver nem sempre é o mais correcto. O stand-up comedy tem-nos revelado enormes talentos no humor, bem como novas formas de fazer rir, mais modernas e descomplexadas. Contudo, o humorista de maior sucesso nos últimos tempos, Fernando Rocha, possui um grande repertório de piadas de cariz racista, sendo as suas personagens habituais e de maior sucesso, caricaturas de negros e da sua posiçao social, num contexto em que o humor é feito num só sentido, claramente, numa atitude descriminatória. Mas as pessoas gostam, enchem coliseus e aplaudem de pé...
Como último e mais íntimo exemplo (cada um, por certo, terá também os seus testemunhos...) tenho o meu meio universitário. Mais de metade das pessoas que conheço, futuros professores, médicos, gestores, engenheiros... mais de metade dessas pessoas é racista. E de forma despudorada, assumida, por vezes até desafiadora, para com quem pensa de outra forma. No fim de contas, estamos a falar da maioria e é essa quem manda. Até que haja uma revolução de mentalidades, até que cada um tenha direito a falar e pensamentos como este que eu escrevi passem das folhas e dos écrãs, para os actos e atitudes de cada um. Sem medos para dizer a verdade - a pele não tem cor!

1 comentário:

Anónimo disse...

Sim senhor, fiquei surpreendida, não sabia que escrevias tão... er...bem soa a pouco. De uma maneira tão clara e fluida, que atinge directamente onde e como é preciso.
Gostei mesmo, a sério, está excelente, tanto no conteudo como na maneira de o exprimires. Tou já a avisar que vou passar por cá + vezes ;)