20.8.06

Caminhos III - Terra Prometida



Em cada um de nós existe pelo menos um sonho por realizar, uma terra prometida. Nem sempre alcançamos essas terras ou nem sempre as alcançamos da forma como as idealizámos. Mas isso não me faz parar e acredito que também não o faça a vocês. A simples possibilidade ou ilusão mantém-me na estrada, nessa constante busca peregrina...

Os comuns mortais como eu, pessoas para as quais existe sempre qualquer coisa inalcançável, tendem em desejar sempre algo acima das suas capacidades e em pensar que existe um nível de saciedade ao qual se pode chegar e por fim, deixar de querer mais. Somos mais complexos que um raciocínio robótico e por isso, constatamos que mesmo as pessoas que podem ter “tudo” se revelam incapazes de se satisfazerem por completo, seja o que for que possuírem. É um dos defeitos mais intrínsecos que herdámos duma sociedade cronicamente hierárquica (ou talvez seja simplesmente um inevitável comportamento na matriz humana). O que é certo é que, com maior ou menor frequência, chega uma altura em que se quer mais e/ou melhor.
Eu quero mais, mas já não peço melhor. Se vier, é lógico que será bem-vindo, mas a prioridade é mesmo mais. Contextualizando...
Gosto do mundo que tenho, ao qual passarei a partir deste ponto a referir como casa. Faça-se jus, então, à expressão “sentir-se em casa”, para que se entenda o meu ponto prévio. Como disse, gosto do meu mundo, que é o mesmo que dizer que gosto das pessoas com quem rio e choro, de quem abraço e beijo, a quem falo de coisas que mais tarde escrevo aqui, mascaradas de palavras bonitas... Aliás, é mais do que gostar, é amar. Daí que não sonhe com melhor, mas apenas com mais. Pedir melhor significaria que tudo aquilo que tenho ou já tive não me satisfaz, ou satisfez. Que este meu desabafo público sirva para esclarecer que o que me move não é uma insatisfação, mas antes a necessidade inerente a qualquer pessoa de uma expansão, reforçada pela percepção de que a minha terra batida já não chega a todo o horizonte que vejo.
Usando um exemplo na minha vida... Durante muitos anos afirmei que a minha cor preferida era o azul, e não me apercebi que eu próprio talvez tivesse condicionado essa minha preferência, ao escolher na maioria das vezes roupa azul (só para citar um exemplo concreto). Hoje em dia, sou muito mais expansivo do que era e provavelmente não sei apontar uma única cor preferida. Gosto do laranja, do branco, do preto, enfim, do azul...
A minha terra prometida faz-me sonhar com essas cores das quais posso vir a gostar, e dessa forma, tornar-me mais policromático. Haverá, claro, o dia em que o meu horizonte esteja praticamente todo palmilhado e o cheiro da minha casa me faça retornar, qual bom filho. Mas não agora, com 21 anos e um mundo incógnito por desvendar, toda uma terra por palmilhar...

Certo dia, encontrei-me perdido em estradas que nunca palmilhara. Olhei para trás e olhei para casa; vi as minhas ruas que não desconheço, senti o cheiro que não sinto, por sempre o ter sentido. Vi também algumas lágrimas de adeus, mas sorri-lhes com um até já.
Voltei a olhar em frente, para o mesmo caminho que me atemorizara. Mas já não me senti sozinho. Caminhei, semi-ofuscado por um sol que lentamente me ia deixando ver as formas que as sombras só imitavam.

Segui em frente.

1 comentário:

Anónimo disse...

Aprende-se com o tempo, com a experiência.
E até aprendemos a sonhar de modos diferentes. E quando conseguimos realizar um sonho, surgem mais alguns para nos fazer prosseguir naquela mesma marcha..

Bj doce

ps - gosto tanto do teu blog que vou linkar-te :-)