19.3.09

Ode Ao Estudante

(texto original de 2008)


Hoje é terça-feira. Acabei de descobrir que os pastéis de nata comem-se em três dentadas. Em época de exames, claro está. A proporção de pêlos na cara por centímetro de pele aumenta a cada dia, à mesma velocidade que diminui a mesma relação no cimo da cabeça. Tenho de estudar. Não porque seja obrigado, e talvez essa seja a diferença crucial entre a universidade e os tempos que a precedem. Quero estudar. Mas os vícios molengões de outros anos minaram a minha eficácia e poder de concentração. Sinto-me um bom rebelde fora do prazo, um anjo caído, entre outras expressões e lugares comuns para pessoas que estão a “passar ao lado de uma grande carreira”. Ainda assim cresci. Pelo menos é o que constato na altura que vem no meu BI. Quando comecei a fazer introspecções destas queixava-me de objectivos que ainda não tinha cumprido então. A maior parte deles já não são queixinhas no presente mas… adivinhem: continuo um puto mimado, cronicamente insatisfeito, mas paradoxalmente suspenso por essa mesma insatisfação, de uma forma positiva e pró-activa. Preciso de insatisfação para poder combatê-la, que é como quem precisa de sonhos não realizados para os poder realizar. Que é como quem precisa de estudar, para vir a trabalhar.

Por favor, prometam-me mais quando eventualmente eu estiver a trabalhar. Mostrem-me necessidades, ou lógica em chegar a velho. Vivo permanentemente em contagem decrescente para os sonhos que encomendo, mas não quero ficar a olhar para o relógio que marca o tempo, quando me for anunciada a penhora das caixas dessas mesmas encomendas. Porque não as quero perder, as malandras das caixas… Quero guardá-las indefinidamente, juntas com o respectivo comprovativo de compra, muito para além do tempo de garantia dos sonhos que lá vinham.

E prometam-me sonhos recorrentes, por mais pequenos que sejam.
Porque preciso de não me esquecer de casa, mesmo quando ela já não existir. Porque agora preciso de mais um pastel de nata, como sempre precisei. Porque agora preciso de estudar, como um dia não vou precisar…

2 comentários:

M disse...

Antes de qualquer comentário reflectido e intelectualmente definido: estava a ver que não. É filho único?

Pedro Dias disse...

Amén *sem querer blasfemar*