27.9.05

Comboio

Posted by Picasa


Alguns dias e tantas noites. É assim que vivo. É assim que entro e saio de comboios que partem rumo ao que desconheço, ou ao que conheço tão bem. Lá, sinto-me como num salto mágico só concebível em sonhos, pairando por tempo indeterminado em indeterminada atmosfera. Olho mais uma vez para trás e regresso a casa...

Mergulho num mar gelado com uma coragem que nunca pensei possuir. Aquela hora, aquela temperatura, aquele local... nada disso faz parte de mim, mas quem sou eu na verdade?! Redescubro-me, como um eterno desconhecido para si mesmo, não o meu verdadeiro “eu”, pois ele não existe, mas sim aquele que eu posso ser: quem Eu quiser.
Invento, então, novos movimentos, torno-me real entre multidões artificiais que me pretendem asfixiar mas não conseguem. Irrompo por entre elas, como se não existissem, percorro avenidas e ruelas com o mesmo ar tranquilo de quem vive, ainda assim, consciente do amanhã, e por querer vivê-lo, não ousa sequer temer o presente!
Caio por entre as profundezas de uma areia que afinal não é funda. De tão áspera e invulgar sinto-a macia, lembro-me que sempre gostei de outros lençóis e cobertores que não os meus. Sinto-me aconchegado, não sei o que trago vestido, mas isso não interessa... Estou uno com a natureza, corpo na terra, olhar no céu, onde procuro um horizonte que nunca irei alcançar, mas sou feliz só de o idealizar. Nele vou sonhar...
Acordo numa festa surreal, cheia de extraterrestres mascarados de humanos adultos! À medida que a maquilhagem escorre e as Cinderelas revertem no seu processo, as berrantes luzes tornam-se quase monocromáticas e o som desvanece-se, como no final de um compasso musical, ou no culminar de um sonho, que já ameaçava tornar-se pesadelo. Volto a olhar cores primárias e em calma torno a adormecer.
Sento-me num banco de jardim e o silêncio me invade, por dentro, por fora... Entendo que não encontro mais palavras e não é porque elas não existem. Simplesmente não tenho a quem as dizer.

Regressei a casa sozinho e tudo foi diferente. Entendi, acima de qualquer outra coisa, que o que chamei de lar não eram caminhos ou sítios, por mais secretos, recônditos e aconchegados que eles fossem. Casas não se constroem apenas com duas mãos. Prossigo então, entre piruetas e voos, distanciando-me mais e mais e mais... Sempre para a frente, numa terra plena de carruagens. Sorte a nossa, que o Mundo é redondo.

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