26.7.06

Caminhos II - Erro


Existem imensas pessoas que usam o cliché “eu nunca me arrependo do que faço, apenas daquilo que não faço”. Esta frase é empregue com orgulho, como quem age sempre absolutamente convicto das suas ideias, e no nosso universo popular tem o seu expoente máximo na célebre tirada do nosso actual Presidente da República: “eu nunca me engano e raramente tenho dúvidas”.
Pois eu sou absolutamente convicto ao assumir, que tenho dúvidas, que me engano e que me arrependo de muitas coisas que digo e que faço. Não tenho orgulho nisso, mas também não me causa vergonha. Causa-me pura e simplesmente, arrependimento.

Errei, escrevendo a tinta, sabendo que as borrachas nunca seriam eficazes neste caso, e sabendo que, quantos mais passos certos fosse dando, maior seria depois a cobrança para aqueles que desse em falso. Segui a minha terra batida e palmilhada, da qual sou exímio conhecedor de todos os atalhos, na qual me sinto bem caminhando, ou deitado entre o pó. E a minha terra, conduziu-me a erro(s); segui todos os processos lógicos que normalmente sigo, como filho da ciência que sou, e mesmo assim a minha experiência revelou-se um fracasso total, onde não me restam sequer ilações positivas a tirar. Apenas a noção de experiência, mais uma que colecciono e que não me faz sentir minimamente enriquecido.

Já alguma vez se sentiram totalmente desviados do ponto onde gostariam de ter estado? Sinto-me não só a leste do paraíso, como também diametralmente oposto a ele; sinto-me no Inferno, ardendo por entre as chamas da raiva que me carcome, por não ter sido justo com o mundo e por não ter sido fiel à única pessoa que não me deixa ficar mal: eu próprio. Decepcionei-me. Acreditava que por maiores que fossem as desilusões que outros me causassem, teria sempre as minhas próprias acções para me reconfortar, os meus caminhos, a minha terra batida: a minha casa. Julgava tudo isso, infalível e sagrado, mas falhei. Agora sinto-me embriagado em falsidade e ressacado em tristeza. Permanentemente...
Não posso esquecer estes desenhos falhados, não os posso sequer ignorar. Marcam-me na pele, em cada ruga que me nasce precocemente. Creio nos Homens, mas estou na linha da frente para ajudar a quebrar a minha própria crença. Irónico...

Adormeci, descansando num campo, embalado por brisas e sons que me recordavam aquilo que me era permitido recordar: o que sempre vivi. Acordei com um torcicolo, no meio de um nauseabundo pântano, agoniado pelos gritos estridentes de corvos e de abutres que já investigavam o meu corpo inerte. Está na hora de me levantar.

É chegada a hora de seguir novos trilhos.

5 comentários:

Anónimo disse...

Equilibrismo.
Um passo em falso, uma palavra fora do contexto, meio quilómetro para longe dos outros e de nós próprios.

Anónimo disse...

Descobri hoje um comentário teu num artigo mais antigo. Acho que não tinha vindo antes agradecer a visita, desculpa-me por isso. Também não tenho certeza, é verdade.

Mas fiquei presa à leitura... deste texto e do anterior.
Escreves como eu gostaria de escrever :-)

Bj doce

Anónimo disse...

"e no nosso universo popular tem o seu expoente máximo na célebre tirada do nosso actual primeiro-ministro: “eu nunca me engano e raramente tenho dúvidas”."

actual presidente da república não?

mess disse...

actual presidente da republica sim! peço desculpa lol tava mesmo distraído, vai ser prontamente corrigido ^^ obrigado pelo reparo ;)

Filipe Nunes disse...

Faz-nos tão bem pensar de tempos a tempos, nesses tempos em que em tudo erramos mas, tão pouco falhámos, porque nos permitiram crescer, nos permitiram ser quem somos, e no fim... sabermos que aprendemos, quem fomos, quem somos e sabermos um pouco mais daquilo que esperamos ser. o segredo está, quanto a mim , em dissecar o erro.