17.5.05

Gelado (Eu, a criança)

Posted by Hello


10º Medo


Faço 20 anos amanhã. Foram duas décadas cheias de dúvidas, pontualmente dissipadas. Certezas são coisas que tenho pouco, ou poucas vezes. Poucas, como esta… em que do fundo da minha inexperiência de vida, qual sábio, divago por entre a efémera, mas genuína felicidade – a infância.

Lembro-me de querer crescer depressa, de sonhar ser mais velho, poder fazer isto e aquilo. Parava em frente a salões de jogos, sonhava poder lá entrar. Fascinavam-me as bebidas alcoólicas; felizmente os tabacos não me seduziam. Ideias deste género faziam parte das minhas preocupações, frustrações e desilusões. Lembro-me de idealizar um sem número de coisas, apenas para mais tarde descobrir as duras diferenças. A vida não é como nos filmes, em que os sentimentos são transmitidos entre músicas de fundo. Quando queres chorar, não ouves violinos, ouves o choro. Quando ganhas, isso nem sempre te realiza, e quando perdes, não existe nenhuma balança justiceira que te prometa vitórias a seguir... Coisas que fui descobrindo ao ritmo de diferentes percussões escutadas, oriundas dos mais variados incensos – do alcatrão às folhas, passando pelas queimadas e pelo cheiro da terra molhada.
O que acho fantástico do tempo de criança é a quantidade de coisas que se descobre espontaneamente, como se o simples respirar inalasse conhecimento, oxigenando a mente. Mas a ingenuidade é linda, e no fim de contas, algumas vezes podia ter sustido a respiração.
Vida... Tão utópica, tão melancolicamente bela, tão impossivelmente honesta, que só uma criança a conceberia. O Bem. O Mal. Como Céu e Inferno, da absolutamente certa “vida depois da morte”. Os fantasmas e superstições. Procurei trevos de quatro folhas, na senda da sorte, que me trouxesse de bandeja mil e uma coisas, inalcançavelmente tentadoras. Os trevos não me encontravam muitas vezes, mas também as ditas tentações depois de tentadas a me provar, cansavam-se do meu sabor, irritantemente indefinido, entre laivos de timidez rebelde.

Enfim, procurei mais e mais. Sempre mais. De uma forma sufocante, como quem se afoga no mar e procura vir à superfície, dentro de um tempo limite, inicialmente turvo, mas que só se torna irremediavelmente nítido à medida que vai escasseando. 20 Anos. E talvez devesse ter sustido, por mais tempo, a respiração... Será que ainda posso? Ainda tá a valer? Não rebentem a bolha... de ar!

3 comentários:

Anónimo disse...

Para já, como ainda é dia 17, não te posso dar os parabéns,mas fica a intenção!
Este comentário é em relação a todos os teus textos: simplesmente lindos!
Gosto muito da maneira como escreves e dos temas que abordas!
Gostei especialmente de "a tela"... é comparável a qualquer autor com de grande reconhecimento:Parabéns.
E não posso deixar de dizer isto, na minha modesta opinião, é muito agradável "encontrar" um rapaz de 19 anos (quase 20, ok!) que escreva este tipo de coisas e mais que isso e ainda mais importante, tenha uma visão da vida tão singular... E sejamos honestos os rapazes de 19/20 anos, regra geral, não são assim... pensam só mais em shots e etc -não concordas comigo?- (o k não é mau, a vida é para se viver) mas, sei lá... parabéns pela diferença :)
já agora, concordo com quem te pergunta:Para quando um livro do 100medos?? Porque gosto muito de ler os teus textos, e ficaria muito contente se escrevesses com mais regularidade.
ps-> Quantas vezes repeti a palavra parabéns?xi... mas olha foram todas merecidas.
mts jinhos continua

Anónimo disse...

Gelado?
Eu também me sinto gelada... Também vou fazer 20 anos, não amanhã, mas já faltou mais!
Ao contrário de ti, não tenho saudades da minha infância (porque só temos saudades dos momentos bons)... mas sinto o tempo a passar depressa demais... e tenho a sensação que algo me está a escapar pelas mãos, como a areia que tu agarras na praia e depois escorre,devagar...
Bigada por "existires" e "me tocares nas feridas"!
mts jinhos continua (sim, sou quem escreveu o texto anterior)

mess disse...

bem, vou aproveitar e fazer um primeiro balanço do feedback do ppl todo. pegando na tua pergunta e do vitor, acerca do livro... bem, editar é algo q (ainda) n m passa pela cabeça, mas de há uns meses para cá, comecei a idealizar o blog, precisamente como um livro :) assim, este post, foi o final do primeiro de dez capítulos, mas isso vai-se tornar mais óbvio com o tempo... ;)
acerca do teu comment.. a ideia do texto, mais do q relembrar especificamente uma infancia feliz era essa q mencionaste com a metáfora da areia, ou da ampulheta... o tempo q so se desloca num sentido e as vivencias (boas ou más) q só olham uma vez para nós.

quero agradecer tds os comentarios q têm feito, pq apesar dos textos serem espontâneos, sao os VOSSOS comentarios q me motivam mais a fazer algo q estou a adorar. beijos e abraços a todos!