27.1.06

Tempo




Não temos nada.

Esta não é a “Grande Verdade”, nem tão pouco a minha verdade – é apenas uma verdade.

Corremos sempre atrás de qualquer coisa que muda de forma à medida que nos aproximamos dela. Quando a alcançamos, está velha, oca e sem sabor. Por uns instantes guardamo-la, como se tratasse realmente de um tesouro reluzente e como se mesmo que esse facto fosse verídico, isso nos tornasse mais ou melhores. Com o tempo – ou sem ele - o tesouro desintegra-se nas nossas mãos, até ao ponto em que nem resta o pó, ou cheiro de um corpo que nunca existiu. Ou nunca foi...
Não estaremos cá para sempre e eventualmente alguém poderá dizer que nunca fomos. As roupas que vestimos serão destruídas, assim como os nossos telemóveis, televisões, ou os computadores que processam este texto, neste preciso instante. Seremos restos mortais, relegados para moradas onde não incomodemos o ecossistema, reduzidos à insignificância animal que temos, mesmo que pintemos o quadro de seres superiores, donos de presenças metafísicas. E aí, não teremos nada, não seremos nada...
O mundo é alimentado pelos acontecimentos do presente e não podia ser de outra forma. A História informa-nos de isto e de aquilo, de algumas centenas de nomes, que com maior ou menor relevo, ficaram imortalizados nas crónicas deste mundo, alcançando uma notoriedade que perdura misticamente durante anos ou séculos após a sua morte, o que nada lhes vale, pois esses nomes já não passam disso mesmo: nomes, história... Continuamos, contudo, a exibir egos embevecidos por esses “tesouros” que nos compram a mente; continuamos em busca dessa glória que uma infinitésima porção consegue atingir, mas nunca (realmente) viver. É como o travo de algumas vitórias: aquele sabor que nos resta no derradeiro final e que já não entendemos bem se é doce, ou se entretanto já se tornou amargo. Somos, pois, incluídos num jogo, cujas regras nos concedem derrotas quando perdemos e o vazio quando ganhamos. E perder ou ganhar interessa, porque nos interessa participar...

O jogo é algo aliciante e hipocrisias à parte, é a potencialidade de uma vitória que cria o interesse em participar. Ninguém joga no Totoloto para ajudar a Santa Casa da Misericórdia. Ninguém entra nos jogos da vida para participar: entram todos pelo primeiro prémio, uma vida plena de sucessos invejáveis, onde o bom não chega, o que interessa é o melhor. A culpa deste sistema é nossa – de todas aquelas pessoas que não se revêem nos mais variados padrões de sucesso e satisfação pessoal e que ainda assim com eles compactuam. Não podemos todos ter as mesmas metas e isso não se trata sequer de diferentes backgrounds, mas da inevitável e fácil conclusão de que não vivemos a mesma vida, não crescemos da mesma maneira ou não nos apela a mesma arte. Neste momento, estás a ler este parágrafo, quando outras pessoas ficaram-se pelos primeiros, ou nunca leram nem nunca irão ler este texto. E não podemos, nem devemos, temer as nossas diferenças, pois nelas crescemos como indivíduos e criamos a nossa identidade. Podemos criar as nossas próprias regras, escolher a nossa própria arte, comer a comida que gostamos, rir daquilo que achamos piada...
Não se trata (apenas) de uma crítica à sociedade de massas, nem tão pouco de um apelo à anarquia, mas somente de uma simples demonstração daquilo que cada indivíduo representa, ou pode representar. Se a felicidade advém de vitórias e se as vitórias se traduzem em perder menos ou fazer outros perderem mais do que nós, então prefiro não ganhar, prefiro não ser feliz. Pelo menos nesse conceito. Porque para mim, a felicidade está ao nosso alcance, no mesmo caminho para onde nos dirigimos quando procuramos o nosso próprio paradeiro, a nossa própria imagem. Uma imagem, que não sendo imortal, enquanto existir será sempre única e autêntica, o nosso tesouro mais simples, mas mais precioso, intemporal em qualquer tempo da nossa vida.

Não sei se isto se trata de uma verdade, quanto mais da “Grande Verdade”! Mas é, com toda a certeza, uma verdade minha...

Não temos nada, a perder.

2 comentários:

Anónimo disse...

uma grande verdade, a tua. uma das maiores.. parabéns por conseguires encontrá-la.. e já agora, excelente escolha de música.

M disse...

eh a tua grande verdade e a minha também, se é q te dou a dar alguma novidade. n temos absolutamente nada, portto o nosso limite eh o céu. paradoxo engraçado,nao? a minha visao n eh exactamente a tua e ficou no meio do texto uma confusao na minha cabeça..afinal achas k deviamos jogar no totoloto para ajudar a santa casa?falando metaforicamente eh obvio..e esses nomes k ficam, pra mim n sao só nomes e historia, sao (ou deviam ser) motores do mundo,seja pra k lado for, pk o bom e o mau sao do mais relativos k há..
eh k no fundo somos todos uma cambada de egoistas e n sei o k n será mais egocentrico, lutar por mais ou contentarmo nos com o menos..

eh smp complicado perceber a fundo o k queres dizer, mas, e n m interpretes mal, no meio da tua modéstia k expoes no texto e k sei k eh sincera,esconde se inconscientemente a arrogancia de k esta visao tua eh a correcta, a verdadeira e a derradeira. claro k eh a tua verdade,isso pra ti aplica se...mas pra kê ttos podemos e devemos,num plural k eh no fundo infinito?

pra quem n comentava ha (ui) tto tempo,acho k matei o jejum ;)

minha mera opiniao, desta amiga k te adora e k tah mortinha por vos puxar as orelhas