25.5.06

Identidade




Se me perguntarem quais são as minhas preferências em relação a variados temas, o mais provável é que eu execute um lento exercício de memória, em busca de algum padrão nas minhas escolhas. E na maior parte dos casos, a resposta acaba por ser inconclusiva e insatisfatória.
Se me perguntarem do que é que eu não gosto, seja qual for o assunto, o mais provável é que eu comece a enumerar rapidamente meia dúzia de conceitos, sem sequer pensar muito.
Da mesma forma que desconheço exactamente aquilo que me cativa, posso dizer que não sei definir ao certo quem sou ou o que é que represento.

A minha identidade é algo que sempre me fascinou, porque acredito que as nossas escolhas tornar-se-ão mais claras, quando nos conhecermos a nós próprios (como no provérbio). Acredito nisto, quanto mais não seja porque preciso de ter uma bússola que me oriente nesta grande estrada que é a vida. Durante a nossa infância é habitual caracterizarmo-nos uns aos outros com dois ou três adjectivos e mais tarde ou mais cedo, acredito que assim como aconteceu comigo, quase toda a gente deve tomar consciência de que essas definições são apenas “impressões” que temos de uma determinada pessoa, vagas e pouco fiáveis. Recordo-me, a propósito de um poema que fizemos em conjunto, na minha turma do 5º ano, em que cada aluno tinha que fazer uma rima com o nome próprio de cada colega. Em cada rima, era-nos pedido que descrevêssemos o colega da maneira mais criativa possível. Gostava de me recordar da minha característica, mas tenho a certeza que a minha identidade não estaria definida nela...
Não creio que seja sequer possível defini-la com suprema exactidão. Neste blog adoptei a rotina de dissecar uma faceta da minha personalidade no final de cada capítulo. É provável que no final de todos os capítulos, algumas delas pareçam totalmente desfasadas com a minha identidade futura; é possível que algumas das que já discuti ou ainda vou discutir nem sequer sejam muito precisas.
Afinal de contas, quem sou? Ou, generalizando, quem somos?

O que mais me motivou a escrever este texto, foram as dezenas de conversas que tive com dezenas de pessoas, acerca das personalidades desta e daquela pessoa. Claro que aqui, também estou incluído, principalmente naquelas grandes sessões que todos temos de auto e hetero avaliação (não confundir com o que se faz no final das aulas...). Pois bem, sempre quis saber quem é que, de facto, tinha razão, quando se falava acerca de alguém e havia divergência de opiniões. E como é óbvio (até pela natureza deste texto), quase nunca cheguei a uma conclusão. “Pior”: por vezes desenhei, também eu, uma outra identidade na pessoa em questão.
Tem lógica, se reflectirmos alguns segundos. Porque é que nem todas as pessoas com que nos cruzamos se tornam nossas amigas, mesmo que sejam amigas de nossos amigos?
Julgamo-nos de formas diferentes, de acordo com os nossos próprios princípios e ainda, de acordo com a forma como contactamos uns com os outros. Esqueça-se a história dos feitios incompatíveis, pelo menos com a frequência com que recorremos a ela. Acreditar nisso, é como acreditar no destino, ou crer que não temos influência derradeira nas decisões que tomamos.

Eu posso ser tanta coisa diferente, aos olhos de tantas pessoas (aparentemente) iguais. Até posso ser o escritor preferido de pessoas, cujas identidades não consigo sequer esboçar, e ao mesmo tempo ser o melhor amigo de outras que nunca leram nada do que eu escrevo.

Então quem sou? Quem somos?

Será possível que eu me conheça a mim próprio?

Há quem vá gostar do que escrevi, há quem vá detestar. Há quem vá olhá-lo com a maior das indiferenças. Aqui, neste blog, meia dúzia de opiniões; lá fora, na vida real, dezenas delas. Aquele que te fez rir; aquele que te fez chorar. Aquele de quem ouviste falar. Recortes de uma fotografia, que ninguém logrou tirar, mesmo que alguns me tentem desenhar...
Talvez esteja precisamente aí a resposta. Talvez a identidade que eu procure sejam esses recortes, os bonitos e os feios, todos juntos e amontoados. Talvez sejamos um mundo e o Mundo não seja mais do que cada um de nós...

4 comentários:

Anónimo disse...

Não vou fazer nenhuma critica apenas te dou um sorriso :)

Anónimo disse...

mesmo,e nem a proposito.vamos passar o resto da vida a constatar a quao vago tudo acaba por ser...bem, sendo assim...patroa, ta a faltar o likido!!!

;)

Anónimo disse...

Eu acho que a identidade não é algo q esteja em vacuo, tu és o outros e outros também são um pouco de ti...identidades não premanecem dentro de tupperwares pro bem e pro mal...

Anónimo disse...

Comecei a pensar nesse assunto, e pensei em levá-lo para o Grupo de Jovens. "quem somos?" "Por quê agimos de tal maneira?" gostei do texto, deu uma luz pra começar a escrever ^^