6.7.05

Teoria da Relatividade (Parte I)

Posted by Picasa


Junho e Julho são por excelência sinónimo de frequências e exames para mim. Meses em que as metáforas ficam recalcadas nos confins mais profundos da minha mente, ironicamente, os mais autênticos, apesar de momentâneamente ínfimos. É dessa panóplia de fórmulas, enunciados e teorias, que brota este texto, numa clara contra-homenagem a esses mundos. Esqueça-se, portanto, a fascinante teoria da relatividade de Einstein. Para quê tentar compreender o Universo quando nem começámos a entender o nosso próprio Mundo?...

Apresento-vos o Daniel, a Joana e o Hugo. O Daniel atravessa um período particularmente difícil porque os pais estão em processo de divórcio, e ele tem consciência que de agora em diante, vai ter de repartir o seu tempo com cada um deles. A Joana vai mudar de cidade, forçosamente, vendo-se obrigada a interromper laços de amizade com mais de 18 anos. Ao Hugo foi-lhe diagnosticado um tumor malígno nos pulmões, que lhe encurtou dramaticamente o tempo de vida.

A história do Daniel não sensibiliza, pois não? Mesmo o drama da Joana perdeu força e empalideceu-se perante um problema real. O caso dela não deixou de ser um problema, mas pudémos constatar que o nível de gravidade de uma situação depende do contexto em que ela está inserida.
Neste mundo de estereótipos e arquétipos, definem-se e generalizam-se conceitos sem atender à relatividade que existe em tudo, mesmo tudo. Veja-se a moral – o bem e o mal. Se é verdade que existem coisas que podemos, com algum bom senso, dizer que são intrínsecamente boas ou más, a grande maioria dos conceitos são apenas juízos de valor, individuais e dependentes da perspectiva com que se encara uma situação. Começamos a ajuizar algo ou alguém imediatamente após o primeiro contacto, condicionados pela nossa experiência pessoal, pelos nossos (pre)conceitos e pseudo-conceitos. Apesar de duas pessoas não pensarem exactamente da mesma forma, existem os tais padrões que estão enraízados e que geram os ditos arquétipos, sem que nos apercebamos. Revisitando o caso da Joana como exemplo, é fácil, pela maneira como a história é contada, cair na tentação de definir a adolescente como a vítima, personagem com a qual nos ligamos solidariamente, a “boa” da história; os pais, como os vilões, insensíveis às emoções da filha, egoístas, egocêntricos... Podiamos continuar a especular neste campo, não seria difícil. Abordemos, porém, uma outra tentativa para este folhetim...

Apresento-vos os pais da Joana, um casal humilde, mas honesto, que trabalha para poder proporcionar um futuro melhor à sua filha, única e querida. A oportunidade das suas vidas surge, quando é proposto um trabalho noutra cidade ao pai da Joana, trabalho esse que permitiria melhorar muito as condições das suas sofridas vidas.

Veja-se como sem alterar a premissa (a história da Joana) podemos gerar conclusões tão diferentes. Um pequeno exemplo, que representa um grande número de realizações que se faz em tudo na vida. Uma história não é contada da mesma forma duas vezes, bem como, não vivemos a mesma situação mais do que uma vez, ou não sonhamos o mesmo exacto sonho duas noites distintas. Um homem bom só o é, num mundo onde aqueles que o rodeiam são piores do que ele. E mesmo nesse mundo, ele tornar-se-à mau, a partir do momento em que aqueles que são melhores do que ele forem mais do que os que são piores. E o pior de todos os homens será, ainda assim, um homem bom, aos olhos de alguns. Que não estarão certos, nem errados... São todos e cada um deles, produto da relatividade.

3 comentários:

M disse...

extraordinário
corroboraste a minha teoria de que tudo isto é uma estupidez pegada à qual damos importância a mais, sendo isso mmo intrínseco à natureza humana. que poder temos pa julgar seja lá o que for? que certezas temos? até que ponto precisamos de as inventar? nao sei -> adepta ferrenha da ignorância assumida

Maike Darksider disse...

Está muito bom (podias não ter exagerado nas palavras que não me lembro do que significam, mas é esse o teu estilo), de facto levar pessoas a concluir do que é bom e mau sem saber o seu contexto não é mera manipulação de crianças para as adaptar à realidade (apanha-nos a nós também) e a comparação com a teoria da relatividade estão óptimas. A subjectividade domina o mundo mas o homem recusa-se a aceitá-lo constantemente com a ciência, esquecendo-se muitas vezes que a filosofia (componente subjectiva anterior à ciência) lhe deu fruto...hehe já me estou a afastar do tema mas pronto. O que não quer dizer que nada seja julgável, no entanto. Um facto é um facto, e a lei serve para isso, não sendo sempre justa. Um ladrão pode ter sido forçado a roubar pão porque e foi condenado a muitos anos de prisão. Foi justo? Possivelmente não vendo o contexto social...agora há no entanto um contexto futuro...se o deixassem ir, poderiam motivar mais ladrões, estes com ou sem qualquer razão biológica para roubar, e seria o caos. No meio disto tudo, não se pôde olhar para o contexto, mas sim para a lei, mesmo que cruel. Pode-se dizer que o ladrão não tinha culpa, mas quem os julgou também não os podemos definir como culpados. A lei procura (sim, tb há leis esquisitas) favorecer aqueles que vivem normalmente, desfavorece aqueles que se querem aproveitar e aqueles sem condições de viver uma vida normal, porque, directa ou indirectamente, há sempre injustiças sem razão, e a lei só pode julgar as directas. Ponto este que, claro, não se opõe à tua excelente teoria, muito antes pelo contrário, chegamos à mesma conclusão, apenas pergunto que se pode fazer em certas situações como a minha? Parece que já falei demasiado, desculpa se isto foi apenas uma perda de electricidade para o teu e meu tempo e electricidade, mas parece que és daquelas raras pessoas que gosta de fazer teorias interessantes.

Cumprimentos

P.S. : Gostei bastante do teu comentário. Continua a visitar o meu blog.

Anónimo disse...

oi!
só queria dizer que tou à espera da continuação...
para quando a parte II?
as ferias tao-te a fazer mal?
ai ai