29.5.05

Silêncio

Posted by Hello

O que é que se escuta no mais ínfimo silêncio, quando o mundo pára para escutar notas inéditas? O pensamento...

O silêncio atemoriza-nos. Irmão de sangue do escuro, cria-nos desconforto, desconfiança... O silêncio é ensurdecedor. Muito mais que metáfora, a frase arrisca-se a tautologia, de tão verídica que por vezes se torna. Aquele zumbido que se confunde com os lamentos de almas invisíveis (até para seres do outro mundo), esses monstros de faz-de-conta, germinados pelas sementes do ego, esses... pensamentos. Portadores das mais utópicas perspectivas, dos sentimentos mais extremos, alicerçados pela mais despeitadas das coragens. E ainda assim, o silêncio... Castrador, ditador num estado sem golpe possível, por mais animadoras que as efémeras revoluções possam parecer.
Tenho tanto a perder com o silêncio. E tanto a ganhar sem ele... No entanto, agarro-me, forreta, à miséria que tenho, como um jogador que joga para não perder, sem se aperceber que quando se entra num jogo, o objectivo é ganhar. Personalizei, mas arrisco-me a dizer que é algo que acontece a todos nós. Gastamos tanta vida a tentar entender, a tentar ser assim e assado, que quando o momento para falar chega, contentamo-nos com grunhidos, isto, quando ainda conseguimos dar uso às cordas vocais. Às vezes parecemos ilesos em momentos em que até sabemos o que dizer, até sabemos o que nos querem ouvir dizer, mas afagamos a melodia, com medo de desafinar. E nem uma nota, nem um assobio...
A calma, contudo, restringe-se ao exterior, ao aparente. O silêncio camufla um barulho sufocante, contido em pulmões fragilizados, mas que outra coisa não sabem fazer senão conter e conter... Até mais não. Até para além disso. Para além do ponto em que o físico importa, no sítio onde a força de vontade comanda, ainda que cega, ainda que surda, paralítica, auto-suficiente e ao mesmo tempo insuficiente. Esta suposta magia, desvanece-se pelas leis de um fatalismo incontornável; como a morte na vida, o físico lembra ao metafísico, que pese embora os dias e noites de ilusionismo, o anabolismo manda e o espetáculo por fim acaba...
E com um estrondo ribombante.
Depois? Bem... Depois, esse mesmo físico, qual bom vilão, determina, pelas suas mesmas regras, pela sua mesma balança, que o pulmão se regenere, que o ar volte a entrar, que se voltem a escutar suspiros e grunhidos, e que uma vez mais, se tornem a alinhar violinos, contrabaixos, guitarras e baterias, na mais dissonante das melodias imaginárias. E faz-se silêncio. Porque o espetáculo tem de continuar...

4 comentários:

Anónimo disse...

Ainda bem que existem pessoas que apesar de em silêncio, não se calam...
Continua assim: cada vez melhor

M disse...

mas o silêncio pode abarcar palavras que são belas assim mmo,sem ser ditas. e terão as palavras assim tta importância? cada vez me apercebo mais do proprio absurdo k sao, por serem mais uma mera invençao humana. talvez seja isso k falta.genuino silêncio.para que as nossas vozes soem mais alto.sem palavras.só grunhidos por serem isso mmo,grunhidos
o silêncio como um nirvana.como um lugar de liberdade absoluta.tas lah perto.falta te abrir os olhos.

Anónimo disse...

agora já percebi.. não só o post, mas tudo... e é tudo verdade.. obrigado por, constantemente, me fazeres ver o lado certo das coisas. e apesar de ser dificil não me agarrar a esse silêncio, a verdade é k nunca vou ganhar com isso... no entanto, mesmo sendo obrigada pelo anabolismo, o ilusionismo jamais será esquecido...

Anónimo disse...

As palavras são apenas pedras...e tu tens uma montanha pra esculpir...artista do silêncio...o vâcuo não implica ausência de movimento...q é q aconteçe a um quark se o tentares vê-lo?!